– O que aconteceu Fernando? Vim correndo assim que me disseram que você não estava bem.
– Não é necessária tanta preocupação. Encontro-me bem.
-Mas, não me parece.
-Sei o que está pensando. E sei também o que lhe falaram. Que encontro-me louco, não é?
-Bem, disseram-me que você estava com problemas…
-Não pense como eles, não te tornes mais um sonâmbulo que acredita viver, mas que na verdade ainda dorme sono profundo, e nunca sequer abriu os olhos para conhecer a luz.
O que acontece comigo, é que despertei da total letargia e agora enxergo coisas que minha cabeça, antes adormecida, não poderia perceber. E como todos os outros ainda têm suas pálpebras cerradas, não conseguem compreender.
– Então fale-me. Descreva-me tal epifania. Talvez eu seja capaz de entender.
TUM!
-Então responda-me. Que significância tem, em nosso mundo, esta minha forte pisada na terra?
– Ao meu ver, é um gesto insignificante.
– Preste bem atenção! E para todas estas formigas que seguiam com seu trabalho em busca de alimento? Agora, encontram-se assustadas e correm de volta ao seu formigueiro, sem nenhum pedaço da comida que almejavam levar. E há grandes chances de todo ele morrer de fome hoje, por conta de um simples gesto meu, que para os demais foi “insignificante”.
– Desculpe, mas ainda não compreendo.
– Tais insetos, não têm consciência… mais que isso… não têm a mínima idéia do que as fez voltar para casa. Você sabe por quê? Porque nenhuma delas tem a noção da existência de uma outra forma de vida, de tamanhos descomunalmente maiores que os seus: nós, os seres humanos. E sabe-se lá se elas têm consciência de sua própria existência.
– Agora, estou ficando realmente preocupado. Não entendo sua linha de raciocínio.
– Tenha paciência. Pois chegou a grande questão: E nós? Você, e eu e todos os outros dormentes? Somos formigas para quem?
Nós, assim como elas, não temos ao menos a consciência do existir.
– Espere! Mas eu sei que existo.
– Mas não sabe o pra que e o porquê. Não sabe com que sentido e com que finalidade. E ao meu ver, dá no mesmo.
– Consigo entender-lhe, amigo. Mas confesso que falta-me muito para compreender.
– Está vendo só? Mais um para atirar-me a pedra de louco. Mas, se o prêmio que se recebe, por conseguir retirar as escamas dos olhos, for a loucura, eu aceito de muito bom grado. Antes ela, do que voltar a ser um boi. Pastando, dormindo, acordando. Ora fugindo, ora seguindo o som de um berrante, junto com todos os outros que ainda ruminam. Eu acordei,… e vi os peões e aprendi a fazer soar a trombeta, e via a cerca e o que há por trás dela. E digo-lhe com o coração transbordando em felicidade: não ficarei preso em um curral nem por mais um segundo.
Sinto-me bem em poder ver, com os olhos relmente abertos, que existem vidas menores, que parecem ser inferiores a nós. E que assim também somos, em relação a outras formas de vida, que não cabe em nossa percepção conceber a existência.
Sinto-me feliz ainda, por conseguir ver os fios das teias que ligam e conectam todas essas esferas, que podem até ser infinitas em quantidade, assim como o universo o é em tamanho.
Pois se sou louco e minha mente criou tudo o que vejo, VIVA à loucura e à inteligência humana.
Mas se sou um visionário, 10 VIVAS à quem tudo isto criou.